O cuidador exerce um papel fundamental na vida de um portador de doença de Alzheimer, auxiliando na verbalização e externalização de seus sentimentos, sensações e desejos.
A Constituição Federal (1988) assegura à pessoa idosa o oferecimento de cuidados, sendo estes de responsabilidade da família, sociedade e Estado, tendo os filhos o dever de ajudar e amparar os pais na velhice. Sendo assim, o papel do cuidador, muitas vezes é exercido por um familiar.
Neste contexto, os responsáveis pelo cuidado são inseridos em uma nova rotina, necessitando adaptar-se às necessidades daquele que demanda cuidados, muitas vezes abdicando de seu trabalho, de seus hobbies e até mesmo de seu próprio cuidado. Envolvido nessa nova rotina, muitas vezes, o cuidador passa a experienciar um exacerbado sentimento de responsabilidade, assim como uma grande redução de liberdade.
As demandas do cuidado podem acabar levando aquele que assume essa função a sofrer perdas na vida pessoal como a diminuição de sua independência, restrição de tempo para realizar tarefas pessoais, privação de sono, tendência ao isolamento e diminuição da rede de apoio social, acarretando em sobrecarga e estresse emocional, impactando em sua qualidade de vida e até mesmo no cuidado oferecido.
Com a atual situação do mundo, reflexo da pandemia do novo coronavírus, muitos cuidadores têm enfrentado a batalha do cuidado de forma mais intensa e solitária. Aqueles que podiam contar com ajuda nesse processo, seja de familiares ou cuidadores formais, passaram a assumir as responsabilidades de forma integral, buscando diminuir o riscos de exposição a esse novo vírus. Além disso, as demandas com o cuidado aumentaram, devido às novas exigências de higiene que visam evitar a contaminação pelo coronavírus. Frente a este novo cenário, os cuidadores passaram a vivenciar situações de alto nível de estresse e sobrecarga.
Alguns autores apontam que cuidar de uma pessoa dependente não traz apenas ônus emocionais, físicos, econômicos e sociais, mas também satisfação pessoal, mostrando que as crenças valores, e sentimentos são importantes para a qualidade de vida como destacam Rocha & Pacheco, (2013).
Sabemos que os momentos desafiadores fazem parte do processo de cuidar. Para evitarmos situações desgastantes, que podem impactar tanto na saúde de quem é cuidado como na de quem cuida, é importante que o cuidador esteja munido de estratégias que o auxiliem nesse processo. As estratégias de coping são definidas pelo indivíduo e vão ajudá-lo a lidar com as situações de forma mais saudável, garantindo uma melhor adaptação às circunstâncias.
Neste sentido é de suma importância que o cuidador saiba delegar funções, para assim, poder desfrutar de momentos de descanso e de menores responsabilidades, realizar outras atividades além do cuidado, recordar bons momentos, viver um dia de cada vez, tornando o percurso do cuidado mais leve, além de proporcionando a si mesmo qualidade de vida.
Pensando nisso, listamos abaixo algumas estratégias que podem auxiliar você, ou alguém que você conheça a enfrentar momentos como esses:
● Investir em autocuidado, buscar manter as redes sociais e de apoio familiar, buscando por satisfação pessoal;
● Conciliar atividades, cuidado e vida pessoal e familiar;
● Lidar com estresse, buscar alternativas de divisão de tarefas e aceitação de perdas;
● Oferecer oportunidade de autonomia para aquele que é cuidado, avaliando sua capacidade para tomada de decisão;
● Oferecer cuidado adequado e estabelecer relacionamento de qualidade com a pessoa cuidada;
● Buscar ajuda em grupos de apoio (Ex: Grupo de Apoio ABRAz);
● Reservar um tempo para realizar atividades prazerosas, descansar, relaxar;
Existem ainda alternativas para os tempos de isolamento e as redes sociais são grandes aliadas. É possível encontrar grupos de apoio, palestras, artigos, vídeos (Ex: aqui no site tem um espaço para o Cuidador; canais do YouTube onde cuidadores compartilham suas experiências), entre outros, que proporcionam momentos de partilha oferecendo apoio para os momentos difíceis. Além disso, a busca por conhecimento auxilia no enfrentamento dos desafios e no desenvolvimento de estratégias de cuidado que irão proporcionar momentos menos estressantes.
Lembre-se sempre: é importante cuidarmos de quem cuida.
Por:
Mariana Garcia Zumkeller- Graduada em Gerontologia pela Universidade de São Paulo (USP), Gerontologia Social na Escola Superior de Educação de Coimbra no Instituto Politécnico de Coimbra- Portugal. Experiência em Iniciação Científica pelo Programa Unificado de Bolsas da USP. Membro da pesquisa científica de validação do Método SUPERA.
Thais Bento Lima-Silva- Profa. Dra. Thais Bento Lima-Silva, Docente do curso de Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), Coordenadora do curso de pós-graduação em Gerontologia da Faculdade Paulista de Serviço Social (FAPSS), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Conselheira Executiva da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG) e Colunista e Assessora Científica de Pesquisa do SUPERA, e membro do GRAZ - Grupo de Alzheimer.
Referências:
ROCHA, Bruno Miguel Parrinha; PACHECO, José Eusébio Palma. Idoso em situação de dependência: estresse e coping do cuidador informal. Acta paulista de enfermagem, v. 26, n. 1, p. 50-56, 2013.
PEREIRA, Regislaine Leoncio et al. Possibilidades no Cuidar: histórias de familiares - cuidadoras do ceresi. In: LODOVICI, Flamínia Manzano Moreira. Envelhecimento e Cuidados: uma chave para o viver. São Paulo: Portal Edições, 2018. p. 58-58.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ALZHEIMER (Brasil). Associação Brasileira de Alzheimer. Necessidades do familiar -cuidador. Disponível em: http://abraz.org.br/web/orientacao-a-cuidadores/cuidados-com-o-familiar-cuidador/necessidades-do-familiar-cuidador/. Acesso em: 08 set. 2020.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ALZHEIMER (Brasil). Associação Brasileira de Alzheimer. O estresse do cuidador. Disponível em: http://abraz.org.br/web/orientacao-a-cuidadores/cuidados-com-o-familiar-cuidador/necessidades-do-familiar-cuidador/. Acesso em: 08 set. 2020.
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