Dúvida comum de muitos cuidadores. Para esclarecer a pergunta (enviada por Maria do Socorro, Jonas Leite, Armando Costa entre outros) esclarecimento da especialista Ceres Ferretti, colaboradora no Tudo sobre Alzheimer.
"Olá amigos!
Vamos falar um pouco sobre um fenômeno apresentado por mais de 60% dos pacientes com demência, que aflige a maioria dos cuidadores. Trata-se de um estado de inquietude que faz com que o paciente ande de um lado para outro, sem demonstrar sinais de cansaço. Fenômeno conhecido por perambulação. É uma alteração de comportamento que também pode estar relacionada a quadros infecciosos e desidratação.
Desse modo, podemos dizer que os principais problemas relacionados à perambulação são os que envolvem a segurança pessoal e ambiental.
Apesar de gerar maior sobrecarga para o cuidador e expor o paciente a riscos, devemos ter em mente que sempre será possível fazer alguma coisa que minimize estes riscos, seja por meio da abordagem não farmacológica, farmacológica ou pela terapia combinada (não farmacológica + farmacológica) para controle deste comportamento.
Por isso estamos aqui, prontos para auxiliar no esclarecimento desta e de outras dúvidas que vocês possam ter e que responderemos com a maior seriedade e prazer.
Do ponto de vista prático, algumas “dicas” de como proceder quando seu familiar apresenta esta alteração comportamental, têm auxiliado muitos cuidadores nos manejos com o paciente que perambula.
A principal preocupação, evidentemente, está em trabalhar para o reconhecimento das possíveis causas da perambulação, além de manter a segurança pessoal/ambiental.
A perambulação pode ocorrer a qualquer momento (dificilmente no início da doença), alguns pacientes não a apresentam isto porque não existe um padrão de evolução igual para todos eles. O cuidador deve pensar, portanto, em formas de minimizar os riscos e perigos que a perambulação pode oferecer (quedas, fugas, acidentes domésticos).
Familiares próximos, comerciantes, amigos, vizinhos, devem ser comunicados quando o paciente apresentar este fenômeno. Eles devem ser orientados que, caso o paciente seja encontrado perambulando pelas ruas, devem aproximar-se calmamente e tranquilizando-o, conduzi-lo para casa.
A dieta que o paciente recebe deve ser equilibrada com uma oferta maior de carboidratos, pois o seu consumo de energia é maior. A perambulação é um dos fatores que pode explicar a perda de peso.
A desorientação têmporo-espacial (incapacidade para reconhecer dias e noites e o local onde se encontra) também pode explicar a inquietação motora demonstrada pelo paciente.
Infecções, reações adversas a alguns medicamentos, dores, fecalomas (fezes em consistência de pedra), devem ser investigadas e descartadas por um médico. Às vezes a presença de um inseto nas roupas ou qualquer outra sensação de desconforto, pode causar inquietude motora, fazendo o paciente perambular.
Alterações de sono também são responsáveis pela perambulação. Deve-se evitar que o paciente durma durante o dia. Lembrar que idosos têm menor necessidade de sono.
Banhos de sol pela manhã são saudáveis e auxiliam no reequilíbrio do ciclo sono-vigília.
Pacientes que apresentam perambulação noturna (caminham à noite), não devem dormir de meias, os riscos de escorregar e cair são muito altos.
Mantenha o paciente ocupado durante o dia, atividades e exercícios físicos adaptados as suas limitações (se houverem) devem fazer parte de sua rotina.
Caminhadas, atividades domésticas simples, serão de grande valor, e embora ele (a) muitas vezes não consiga terminar uma atividade, gasta energia e possivelmente terá um sono mais tranquilo.
Medidas de segurança devem ser adotadas, mesmo para aqueles pacientes que nunca tenham se perdido; ele deve ser observado sutilmente, identificado com uma pulseira, medalha, com nome, telefone e se possível, dados médicos.
Todos os riscos devem ser avalizados pelo cuidador. Assim, portas, janelas, poços, piscinas, escadas, sacadas, devem ser supervisionados rotineiramente com a finalidade de manter a segurança do paciente que perambula.
Os arredores da casa também devem ser analisados, ruas com tráfego intenso oferecem grande perigo.
Travas colocadas na parte alta ou baixa da porta mantém a casa segura e dificilmente são percebidas pelo paciente.
Se houver quintal, este deve ser protegido por cercas altas e firmes ao redor.
Vãos abertos em escadas devem ser fechados.
As chaves do carro devem ser guardadas em local seguro, longe do alcance do paciente. Muitos já foram encontrados após horas, perdidos, dirigindo inclusive carros de outras pessoas.
Pense que talvez retirar uma ou outra peça do carro, impedindo com isso que ele funcione, pode ser uma boa solução alternativa.
Caso o paciente saia e se perca, é conveniente iniciar a procura em locais que habitualmente ele frequentava, familiares a ele.
Lembre-se, o paciente não pode sentir-se perseguido pelo cuidador, observe-o e supervisione suas atividades com sutileza.
Não se esqueça! A informação ainda é nossa melhor arma nos manejos com nosso paciente!!
Até a próxima!"
Ceres Eloah Ferretti - enfermeira,
Pós-doutora em Neurologia pela FMUSP.
Doutora em Ciências e Mestra em Neurociências pela UNIFESP.
Pós-graduada em Gerontologia Social pelo Instituto Sedes Sapientiae,
Pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento - GNCC, do HCFMUSP.
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