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Relatório Nacional sobre Demência é lançado no Brasil

Atualizado: 23 de set.


Lançado, oficialmente, o Relatório Nacional sobre Demência no Brasil sob coordenação da Dra Cleusa Ferri, da Universidade Federal de São Paulo, em evento dia 20, na OPAS/OMS em Brasília, no qual tive oportunidade de participar.

 

Robusto, o relatório elaborado pelo Ministério da Saúde - Secretaria de Atenção Primária à Saúde, Departamento de Gestão do Cuidado Integral e Coordenação de Atenção à Saúde da Pessoa Idosa - aborda dados importantes e impactantes sobre epidemiologia, (re)conhecimento e projeções futuras que, certamente, vão balizar políticas públicas e ações efetivas no universo da Doença de Alzheimer e outras Demências.

 

Foi um dia intenso de programação com apresentações e discussões sobre o Cuidado Integral às Pessoas Idosas na APS – Um Olhar sobre a Demência e a Saúde Mental no Envelhecimento.


(na foto: Lucas Teixeira, Andrew Miguel, Carol Godoy, Sonia Brucki, Elaine Mateus, Lígia Gualberto, Paulo Caramelli, Cleusa Ferri, Ricardo Nitrini, Lina Menezes.)


Alguns depoimentos durante o evento em Brasília:

 

Dra Cleusa Ferri, Unifesp, coordenadora do Relatório: É uma satisfação ver como tem evoluído o engajamento da sociedade civil, do Ministério da Saúde e das Secretarias, das associações e dos pesquisadores para melhorar a vida das pessoas com demências e para motivar a prevenção. Também salientou a importância da existência de leis nacionais, estaduais e municipais para demências. E alertou sobre o aumento no número de casos de demências, e disse que o diagnóstico para demências e para depressão devem ser levados em consideração nos programas.

 

Elisa Prietro, da OPAS, destacou que a inversão da pirâmide populacional com mais pessoas idosas que crianças e adolescentes, traz novas demandas em relação à saúde mental. Afinal, até 2050, segundo dados da OMS, podemos chegar a 155 milhões de pessoas vivendo com algum tipo de demência no mundo. ‘Atenção integral e multidisciplinar é chave para o melhor atendimento às pessoas com demências, o que requer qualificação profissional em toda a rede’, salientou.

 

Marcela Alvarenga, do Conselho Nacional dos Secretários Municipais de Saúde (Conasems), destacou a importância de capacitar equipes da atenção básica para também acolher a família – que adoece junto com a pessoa com demência.

 

Edgar Nunes de Moraes, do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass), falou da planificação da atenção à saúde para um cuidado integral e multidimensional da pessoa, incluindo, a idosa. Um dos objetivos é fazer com que os profissionais de saúde consigam perceber as principais necessidades das pessoas atendidas, incluindo as demências.

 

Letícia de Oliveira Cardoso, da Secretaria de Vigilância, fez uma fala contundente destacando que este evento chama um compromisso nacional com os entes federados como o Conass e o Conasems para o cuidado integral da pessoa idosa. E mais: disse que a demência não tem constado nas pesquisas nacionais de saúde. E se comprometeu a incluir o diagnóstico de demência na pessoa idosa no mapeamento da vigilância na Pesquisa Nacional de Saúde Mental que deve acontecer em 2025. Ela ainda informou que o suicídio vem aumentando na população 60+.

 

Aristides de Oliveira Neto, da Secretaria de Atenção Especializada, disse que pensando a rede tem havido um esforço para um trabalho mais conjunto da Secretaria de Atenção Especializada com a Secretaria de Atenção Primária. 'E temos desafios enormes para lidar com o fenômeno e complexidade da transição demográfica: enfrentar os vazios assistenciais, a má formação de profissionais, poucos profissionais para lidar com esse desafio. O nosso programa ‘Mais acesso a especialistas’ também tem avançado para melhor atender as necessidades da pessoa idosa. Teremos de ir além da saúde e por isso tão importante a soma do governo, academia, instituições e sociedade'.

 

Vania Lúcia Ferreira Leite, Conselho Nacional de Saúde, falou que vem trabalhando esse tema no programa sobre os ciclos de vida. E diz como é importante esse debate e da campanha ‘É Hora de Agir’ que destaca o papel da educação e da luta contra o estigma.

 

Jérzei Timoteo, Secretário Adjunto de Atenção Primária à Saúde, falou sobre a importância do lançamento desse primeiro Relatório Nacional sobre Demência para pensar, refletir e ser mais assertivo na política pública. 'Tenho pessoa com demência na família e a gente sabe como é importante essa discussão. E salienta que com o recorte brasileiro teremos mais condições de ser mais assertivo na atenção primária em relação aos fatores de risco modificáveis para demências. E envolvendo as 52 mil equipes de saúde da família que temos no país hoje'.

 

Na parte da tarde, o foco foi centrado no lançamento do Relatório Nacional sobre Demência.

 

Ligia Gualberto, responsável pela Coordenação de Atenção à Saúde da Pessoa Idosa COPID/DGCI/SAPS, salientou que 'no Brasil já temos 32 milhões de pessoas idosas e o aumento do Alzheimer e de outras Demências vai na mesma direção do aumento da expectativa de vida. A Atenção Primária no cuidado integral considera a importância do cuidado ao longo de todo o ciclo de vida; a avaliação multidimensional como ponto de partida na gestão do cuidado; a abordagem familiar e a orientação comunitária. Também estimula estudos e pesquisas relacionadas à saúde da pessoa idosa, como esta pesquisa sobre demências. E tem ainda potencial para promover a conscientização sobre a demência'. Ela ainda destacou algumas das possíveis causas para o subdiagnóstico das demências como: 'lacunas na formação de profissionais de saúde, a concentração de serviços especializados para atendimento a pessoas com demência em capitais ou grandes centros urbanos, o estigma e desconhecimento da população geral sobre o tema, e o não reconhecimento de que o declínio cognitivo relacionado à demência não é próprio da idade'. E também mencionou 'o suicídio na população idosa como grave problema de saúde pública. E que para prevenção do suicídio e outras violências é fundamental a articulação e integração entre serviços, e o papel dos agentes comunitários de saúde na busca ativa e sensibilização para o cuidado em saúde. E para encerrar destacou a Lei 14.878, de 4 de junho deste ano, que instiui a Política Nacional de Cuidado Integral às Pessoas com Doença de Alzheimer e Outras Demências'.

 

Elaine Mateus, presidente da FEBRAz, fez um discurso emocionante.

'Falo do lugar de uma filha que acompanhou por 10 anos a mãe que recebeu diagnóstico de Azheimer. Falo também como academia e como ativista social. As minhas histórias são individuais mas são parecidas com a de milhares de famílias que, como eu, se sentiram abandonadas nesta jornada. Depois de dois anos fazendo um tratamento para Depressão, minha mãe foi diagnosticada para Alzheimer, com agendamento para retorno em três meses, um aperto de mão e boa sorte. Eu poderia também contar a vocês do dia em que minha mãe e eu fomos ao hospital pois, meu pai tinha sido levado às pressas com suspeita de infarto, e eu disse pela primeira vez em voz alta que minha mãe não podia entrar sozinha, nem podia ficar de fora sozinha porque ela tem Alzheimer. E esse profissional disse com frieza: ‘Alzheimer? Não parece!’. Tive histórias de conflitos familiares, empobrecimento pelos custos altíssimos, mas o mais importante é trazer a percepção que está uma camada abaixo dos números: isso acontece por causa do abandono, de ausência de políticas publicas, de ausência de uma política de cuidados. Quando se recebe o diagnóstico, a pessoa é resumida a paciente. E nós, filhos, cônjuges, somos resumidos a cuidadores.'

E Elaine continua: 'hoje também está sendo publicado pela ADI o novo relatório sobre Estigma.

Pioramos, depois de 5 anos não avançamos no rompimento dos estigmas. Os estigmas como construção social – nós criamos nossos pré-conceitos e essas práticas de discriminação que nos adoecem, que faz com que nossos direitos não sejam garantidos. Direito a dignóstico, porque de cada 10 pessoas apenas 2 recebem o diagnóstico. Aliás, preciso dizer que não existe diagnostico precoce – trata-se de diagnóstico que precisa ser feito em tempo, diagnóstico oportuno. E para além dos medicamentos são poucas as alternativas. Direito a cuidado de longo prazo. E direito a uma vida digna. Enquanto não entendermos a demência como prioridade de saúde publica, vamos continuar apenas dizendo sobre números. E este é um momento icônico muito oportuno com o lançamento desse Relatório que se soma ao relatório da FEBRAz, da Conferência Nacional Livre de Demências e a de Cuidado Integral às Pessoas Idosas. Quero deixar um apelo ao Ministério da Saúde pra que a gente avance à implementação da Politica Nacional De Cuidado Integral às Pessoas com Demências. Só a sanção não é suficiente. Nós precisamos de um Plano Nacional de Demências até 2025. Lançamos em Setembro, o CoNaDe – Coalização Nacional de Demências e estamos dispostos a trabalhar junto com os Ministérios para fazer acontecer'.

 

Dr Paulo Caramelli, explicou, de forma didática, a importância e as práticas para a Identificação da Demência na Atenção Primária. Ele faz parte do grupo de consultores do Relatório.

 

Sonia Venâncio, da Gestão do Cuidado Integral, falou sobre a implementação das políticas às pessoas em todo o curso de vida. E são muitos os desafios também para oferecer às pessoas idosas e para os cuidadores. Precisamos de todos: Atenção Primária, Especializada, Vigilância e todas as instâncias nos territórios. Importante refletir, debater e conseguir os avanços que são esperados nesta agenda. E lembrando que o bom é sempre termos as evidências científicas para formular e implementar as políticas com base nas melhores evidências.

 

Cristina Hoffmann, da OPAS, disse que 'o tema do envelhecimento nos faz pensar e reconstruir muitos do nossos conceitos, dos nossos paradigmas. Por si só o envelhecimento nos faz pensar numa ótica de cuidado. A OPAS pensando na dinâmica diferenciada do envelhecimento – em função da heterogeneidade – o Brasil é muito desigual, diferença de gênero, social, econômica -, então olhar sobre o envelhecimento como parte do curso de vida nos leva a um cuidado integral e, por isso, precisamos falar de intersetorialidade.  Temos hoje um cenário oportuno para incluir essa questão em todas as outras políticas. A OPAS e ONU que estabeleceram a Década do Envelhecimento Saudável. Mas a proposta é como você pensa sobre quatro grandes eixos: trabalhar contra o estigma e o preconceito; pensar em ambientes que estejam preparados para combater o preconceito e que estimulem uma sociedade mais equânime e mais acolhedora e garantidora de direitos para todas as idades; organização dos serviços de atenção e em especial a atenção primária à saúde; pensar como nós ofertamos um cuidado a longo prazo, incluindo rede de apoio e cuidado intermediário para familiares e cuidadores.

 




Relatório Nacional sobre Demência no Brasil


Coordenação Dra Cleusa Ferri

Departamento de Psiquiatria, Unidade Psicogeriátroca (PROGER) da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP.

 

'Este primeiro Relatório compila o número de pessoas com demência no país; fatores de risco associados; dados nacionais sobre a mortalidade relacionada à síndrome; taxa de subdiagnóstico; nível de conhecimento e estigma da população brasileira em relação à demência'.


Dra Cleusa apresentou os pontos principais do Relatório e, especialmente, as recomendações (que podem ser acessadas no link da publicação).

 

'Avançamos muito mas ainda temos muitos desafios para garantir uma melhor assistência às pessoas idosas e as pessoas com demências e a seus familiares e cuidadores', enfatizou e convidou a todos os profissionais e interessados a acessar ao Relatório.






Para quem tiver interesse em assistir ao evento, pode acessar o link disponibilizado pelo Ministério da Saúde no Youtube: https://www.youtube.com/live/2jgh8dCx1lY



Agradeço à Dra Cleusa Ferri o gentil convite pela oportunidade de participar do evento de lançamento do Relatório Nacional sobre Demência, representando o Tudo Sobre Alzheimer e o GRAz - Grupo de Referência em Alzheimer.


Vejam algumas fotos do evento:








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