Tele-estimulação cognitiva para idosos e sua importância para o bom desempenho cognitivo e bem-estar emocional
Com a chegada da pandemia de Covid-19 no Brasil, a telemedicina passou a ser regulamentada no país sob Ofício do Conselho Federal de Medicina (CFM) nº 1.756/2020 e a Portaria nº 476, de 20 de março de 2020, onde o médico pode avaliar quando é realmente necessário realizar uma consulta presencial e quando é possível fazer o acompanhamento virtual (BERTASSO, 2021).
Dessa maneira, a efetuação de troca de receitas, acompanhamento de exames, sessões de terapia, entre outras situações, podem ser realizadas sem que o profissional e o paciente estejam no mesmo ambiente físico. Com isso, as teleconsultas tiveram um alcance muito maior durante o cenário pandêmico, em que envolve um conjunto de tecnologias utilizadas pelos profissionais: integrando, agilizando e facilitando a vida do paciente (BERTASSO, 2021).
Nesse contexto, a pandemia trouxe a necessidade de repensarmos estratégias de avaliação e intervenções terapêuticas e de desenvolvermos novas competências na área da saúde. A tele-reabilitação cognitiva, por exemplo, é uma metodologia que utiliza as tecnologias da informação e comunicação (TIC’s) como estratégia para estimular as capacidades cognitivas através da interação do indivíduo com sistemas computacionais (BERNARDES, 2014).
A intervenção cognitiva à distância visa promover potencialidades humanas, com ênfase em problemas cognitivos, em especial, em idosos que estão em um quadro clínico de comprometimento cognitivo leve, estágios de demências e realizando tratamentos pós sequelas da Covid-19 (BERNARDES, 2014).
Ao participar de atividades de estimulação cognitiva, mesmo de forma remota, o idoso pode atrasar o início da perda de memória, aumentar a plasticidade cerebral, obter um bom desempenho cognitivo e promover um bem-estar emocional. A prática constante de tarefas com jogos, leituras e músicas, por exemplo, pode fortalecer as capacidades de interação social, melhorar o humor, a disposição mental e física e interferir positivamente na qualidade de vida da pessoa idosa (CARVALHAIS, 2019).
Em seu estudo Cacciante e colaboradores analisou e sintetizou evidências sobre a eficácia da tele-reabilitação em pacientes com doenças neurológicas (acidente vascular cerebral, lesão cerebral traumática, comprometimento cognitivo leve, etc), em comparação com a reabilitação face a face convencional. Concluíram que as melhorias no desempenho cognitivo obtidas pela tele-reabilitação são comparáveis àquelas alcançadas face a face, e apresenta ser mais eficiente na melhoria da memória operacional e funções executivas.
Veja algumas vantagens e desvantagens da intervenção cognitiva à distância:
Vantagens
● Tempo de viagem reduzido;
● Redução de custos e acesso a serviços, especialmente para a população carente e para pacientes com deficiências motoras, que influenciam negativamente sua mobilidade e sua capacidade de chegar aos centros de reabilitação.
Desvantagens:
● As deficiências auditivas e visuais podem interferir em alguns aspectos da logística de telecomunicações, como qualidade ou clareza visual;
● A ausência de domínios tecnológicos pode prejudicar ou impossibilitar a estimulação cognitiva no contexto remoto.
É relevante destacar o valor das intervenções de tele-estimulação cognitiva baseadas na perspectiva ampla da Gerontologia e de outros profissionais, que parte da importância do bem-estar do idoso, ainda que em condições adaptadas, mas que leva em conta o incentivo das potencialidades de cada indivíduo e que torna real a possibilidade de manutenção e melhora das capacidades cognitivas.
Referências bibliográficas
BERTASSO, Carolina Pimentel et al. Telemedicina nas instituições de longa permanência para idosos como social accountability no contexto da Covid-19. Revista Brasileira de Educação Médica, v. 45, 2021. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbem/a/whrLtCjBwyD9hN83h4V9qHh/abstract/?lang=pt. Acesso em: 01 dez. 2021.
BERNARDES, M. S.; RAYMUNDO, T. M.; SANTANA, Carla da Silva. O uso das novas tecnologias na reabilitação cognitiva: uma revisão da literatura. Anais, 2014. Disponível em: https://www.canal6.com.br/cbeb/2014/artigos/cbeb2014_submission_343.pdf. Acesso em: 01 dez. 2021.
CACCIANTE, Luisa et al. Cognitive telerehabilitation in neurological patients: systematic review and meta‑analysis. Neurological Sciences, p. 1-16, 2021. Disponível em https://link.springer.com/article/10.1007/s10072-021-05770-6. Acesso em: 02 dez. 2021.
CARVALHAIS, Maribel et al. Efeitos de um programa de estimulação cognitiva no funcionamento cognitivo de idosos institucionalizados. Revista de Investigação & Inovação em Saúde, v. 2, n. 2, p. 19-28, 2019. Disponível em: https://riis.essnortecvp.pt/index.php/RIIS/article/view/54. Acesso em: 02 dez. 2021.
Assinam este artigo:
Cássia Elisa Rossetto Verga
Estudante de Graduação do curso de bacharelado em Gerontologia pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo. Atualmente faz estágio na área de pesquisa em treino cognitivo de longa duração pelo Instituto SUPERA – Ginástica para o Cérebro. Tem interesse na área de treino e estimulação cognitiva para idosos, com enfoque em neurologia cognitiva. É membro da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Já foi bolsista PUB da Universidade Aberta à Terceira Idade da EACH-USP, atual USP60 + nas oficinas de música e letramento digital. Participou como assessora de Projetos e Recursos Humanos na Empresa Geronto Júnior entre os anos de 2019 a 2020.
Graciela Akina Ishibashi
Estudante de Graduação do curso de bacharelado em Gerontologia pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo. Realizou estágio no Centro Dia Bem Me Care entre os anos de 2019 a 2020. Atualmente faz estágio na área de pesquisa em treino cognitivo de longa duração pelo Instituto SUPERA – Ginástica para o Cérebro. Tem interesse na área de estimulação cognitiva com jogos. Já foi voluntária na Universidade Aberta à Terceira Idade da EACH-USP, atual USP60 + nas oficinas de origami, dança sênior e letramento digital.
Profa. Dra. Thais Bento Lima-Silva
Docente do curso de Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), Coordenadora do curso de pós-graduação em Gerontologia da Faculdade Paulista de Serviço Social (FAPSS), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo. É assessora científica e consultora do Método Supera.
Comments